No mês de junho passado, a cidade de Rosário, na Argentina, foi palco do Lipedema Connect, primeiro evento presencial de conscientização sobre lipedema no país, organizado por uma corajosa e dedicada nutricionista alagoana. Com uma trajetória marcada por desafios e superação, essa brasileira trouxe à tona um tema ainda pouco discutido, mas de extrema importância para a saúde feminina. O lipedema também atinge homens? É raríssimo, mas atinge. Isso acontece em uma escala muitíssimo menor do que as milhares de mulheres que são diagnosticadas com a condição todos os anos, sendo uma patologia que acomete majoritariamente o sexo feminino.
Renata Mello sempre demonstrou espírito empreendedor e uma vontade incansável de ajudar os outros. Diagnosticada com lipedema, ela se deparou com uma condição que afeta cerca de 10% das mulheres, caracterizada pelo acúmulo doloroso e desproporcional de gordura nas pernas, coxas, glúteos e, em alguns casos, nos braços. “Eu tive covid-19 em 2020. Logo após, apresentei várias sequelas, como alergia grave ao látex. Nessa mesma época, minhas pernas começaram a ficar estranhas. Comecei a ter inchaço, sentir dores e sensação de peso nas pernas. Apareceram hematomas espontaneamente, mas ninguém sabia diagnosticar ao certo o que era aquilo que acontecia comigo após eu ter covid. Só fui ter o diagnóstico definitivo 1 ano e 7 meses depois. Ou seja, o lipedema já estava em franca progressão”, relembrou.
Ela explica que o lipedema é uma doença crônica, progressiva e que, se não houver tratamento e a pessoa ficar exposta aos gatilhos que favorecem o desenvolvimento ou o aumento da patologia, a tendência é piorar. “É uma doença de fundo genético e hereditário. O que vai fazer a pessoa que tenha predisposição desenvolver o lipedema são os ‘gatilhos’ que essa pessoa vai passar durante a vida. As alterações hormonais no decorrer da vida de uma mulher (menarca, gravidez, menopausa) e também o uso de anticoncepcionais podem fazer com que ela desenvolva a condição”, comenta.
De acordo com Renata, existem gatilhos que podem levar ao desenvolvimento ou progressão da patologia, dentre eles as oscilações hormonais. “Como é uma doença inflamatória, a questão da alimentação tem um peso gigante. O corpo da gente está todo conectado”, acrescenta.
Determinada a entender e gerenciar sua condição, desde o seu diagnóstico Renata vem estudando exaustivamente sobre o tema, inclusive obteve uma formação em Lipedema e se tornou uma defensora ativa pela causa, criando o perfil no Instagram @nutrirenata_lipedema, exclusivo para abordar sobre o tema e ajudar as portadoras com sua expertise no tratamento clínico nutricional do lipedema com atendimentos em qualquer parte do mundo, o que a possibilita ajudar um maior número de mulheres que padecem da patologia.
O evento em Rosário
Motivada pela carência de conhecimento da população sobre o assunto e suporte adequado para pacientes com lipedema na América Latina, ela decidiu organizar o primeiro evento presencial sobre a doença na Argentina no Mês Mundial da Conscientização do Lipedema. O evento, realizado em Rosário no dia 22 de junho, reuniu portadoras da patologia, estudantes e profissionais da área de saúde, oferecendo um espaço de aprendizado e troca de experiências.
Durante o encontro, foram realizadas palestras com médico, nutricionista e educador físico (entendendo que o tratamento para lipedema é multidisciplinar) onde abordaram temas como diagnóstico, tratamento clínico, alimentação anti-inflamatória e exercícios adaptados ao estágio e a condição onde a portadora de lipedema se encontra, sempre com o objetivo de melhorar a qualidade de vida.
Impacto e repercussão
O evento foi um sucesso, não apenas pela procura por mais esclarecimentos sobre o tema mas também pelo impacto positivo que gerou na comunidade local.
Mulheres que convivem com o lipedema tiveram a oportunidade de aprender mais sobre sua condição e compartilhar suas histórias, criando uma rede de apoio mútuo. Estudantes e profissionais de saúde saíram do evento mais informados e capacitados nessa condição muitas vezes negligenciada.
Agradecimentos
A alagoana fez questão de agradecer a todos que tornaram o evento possível . “Este evento é apenas o começo. Nada é por acaso e vocês estão aonde deveriam estar. Sintam-se especiais porque serão os porta-vozes dessa patologia", declarou emocionada.
Com uma visão clara e um coração cheio de esperança, Renata mostrou que a determinação e o compromisso com o bem-estar dos outros podem romper barreiras e criar mudanças significativas. Seu trabalho em Rosário é um testemunho inspirador de que, independentemente do local, todos podem fazer a diferença.