As eleições municipais em Maceió, principal colégio eleitoral de Alagoas, estão sendo marcadas pela presença de políticos que tentam assegurar a continuidade de seu legado por meio de familiares. Os exemplos estão sendo observados da Assembleia Legislativa do Estado (ALE) e Câmara Federal, direcionados à Câmara Municipal de Vereadores. Ao todo, são oito parlamentares que estão em vias de eleger seus familiares para cargos eletivos.
Entre os casos estão o do deputado estadual Silvio Camelo (PV), que busca eleger o seu filho, Silvio Camelo Filho, para o cargo de vereador. Ambos já estão em campanha pelos bairros da capital e nas áreas em que o parlamentar mantém as suas bases eleitorais.
Ainda na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Cabo Bebeto (PL), também investe maciçamente na candidatura de seu filho, Caio Bebeto, que já foi secretário municipal na gestão JHC (PL), também para o cargo de vereador. O parlamentar e seu filho estão em campanha e têm usado muito da proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro para obter os votos do eleitorado conservador da capital alagoana.
Já o deputado estadual Marcos Barbosa (Avante), além de manter candidatura da vereadora e esposa, Silvania Barbosa (Solidariedade), também está nas ruas com a candidatura do filho, Gerônimo Barbosa (Solidariedade).
Deputada estadual em primeiro mandato, Rose Davino (PP), apoia uma nova reeleição do marido e vereador, Davi Davino (PP), na Câmara da capital. Já o deputado Dudu Ronalsa (MDB), além de participar da indicação do nome da irmã, a vereadora Gaby Ronalsa (PV), para ser vice do candidato a prefeito Rafael Brito (MDB), também está nas ruas para eleger o primo Milton Ronalsa (PSB), ao cargo de vereador.
No Poder Legislativo estadual, o deputado Lelo Maia (União Brasil), apoia a candidatura do irmão, o vereador Zé Márcio Filho (MDB), à reeleição. O deputado Francisco Tenório (PP), também está em campanha para reeleger a filha, Olívia Tenório.
O deputado federal Marx Beltrão (PP), também investe para ter uma representante da família na Câmara de Maceió, e já lançou, bem como está em campanha para tentar eleger a irmã, Jeannyne Beltrão (PL), vereadora. Jeannyne já foi prefeita do município de Jequiá da Praia, no Litoral Sul do estado, e também esteve à frente da Secretaria Municipal Abastecimento, Agricultura, Pesca e Aquicultura, na gestão JHC.
A cientista política Luciana Santana comentou com a Tribuna Independente que na ciência política, essa tendência é uma manifestação do “familismo na política”, um fenômeno caracterizado pela perpetuação de famílias tradicionais no poder.
“Na ciência política, a gente costuma chamar isso de familismo na política, que é justamente a força de famílias que já atuam na política de manter-se no poder por meio de outros familiares”, explica Santana.
Segundo Luciana Santana, essa prática não é exclusiva de Alagoas, mas reflete uma cultura ainda muito presente em todo o Brasil. “No Brasil, a gente ainda tem essa cultura muito forte, e claro, isso acaba reduzindo a chance de termos uma renovação política e uma outra perspectiva da política.”
Embora a cientista política reconheça que essa estratégia não seja totalmente negativa, ela destaca que a manutenção do poder por essas famílias pode limitar a entrada de novas figuras na política. “Não diria que isso é de todo ruim, mas reduz as chances de termos pessoas novas ocupando esses espaços, pessoas que, de repente, têm posicionamentos e projetos mais republicanos para a política”, continua.
No contexto alagoano, Luciana Santana observa que o peso das famílias tradicionais na política continua sendo uma realidade marcante. “Pensando em Alagoas em si, como eu falei, não é exclusividade de Alagoas, mas assim como em outros lugares do país, a gente vê o peso que as famílias ainda têm na política”, concluiu a cientista.
A eleição de 2024 será, portanto, mais uma demonstração do quanto o familismo ainda influencia os rumos da política local, perpetuando a presença das mesmas famílias no cenário político alagoano.