O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou na última sexta-feira (19) que a relação dos deputados com a articulação política do governo Luiz Inácio Lula da Silva voltou à “normalidade” – após uma série de broncas e reclamações públicas no início do ano.
Em abril, Lira chegou a chamar o ministro das Relações Institucionais de Lula, Alexandre Padilha, de “desafeto pessoal” e “incompetente”. Padilha, deputado federal desde 2018, é o principal ponto de contato entre o governo e o Congresso.
Eu mal falo com – e da – articulação política do governo. Quando me posicionei, foi porque o clima estava chegando em um nível que eu fazia a seguinte análise: um presidente da Câmara que veio de uma posição antagônica, que dá o apoio que eu dou a um governo que precisa de uma maioria que não tem, e o tempo todo é vítima de matérias mentirosas, fake news plantadas por quem não deve? A articulação estava do avesso. Então, o ‘basta’ foi para que o governo entendesse que não tem um adversário político no Congresso. Tem um aliado político com responsabilidade, independência. E as coisas a partir daí começaram a andar com normalidade, nada diferente do que acontecia antes”, declarou Lira.
Na última semana, Lira e Padilha se cumprimentaram de forma tímida na festa de aniversário do deputado Elmar Nascimento (União-BA), em Brasília. A reaproximação contou com a ajuda do presidente do União Brasil, Antonio Rueda, além dos ministros da sigla Juscelino Filho (Comunicações) e Celso Sabino (Turismo).
A proximidade interessa ao próprio Elmar Nascimento – apontado por interlocutores como possível candidato favorito à sucessão de Lira no comando da Câmara. Um apoio do governo à candidatura seria decisivo, neste caso, para encurtar a “campanha” interna entre os deputados no próximo semestre. Arthur Lira negou que já tenha definido quem apoiará na sua sucessão – ele não pode se candidatar à reeleição. São apontados como pré-candidatos até o momento, além de Elmar, os deputados Antonio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).
ERRO NA DISCUSSÃO
Ainda na última sexta (19), Arthur Lira disse que o colégio de líderes errou na discussão do projeto de lei que equipara aborto após a 22ª semana de gestação a crime de homicídio.
“O colégio errou quando não viu o resto do projeto. E o resto do projeto foi que deu uma versão horrenda a uma discussão que todos nós temos aversão”, disse Lira. O colégio de líderes é responsável por assessorar o presidente a definir quais propostas devem ser encaminhadas com prioridade, dentre os milhares de projetos prontos para votação no plenário.
Ainda segundo o presidente da Câmara, a discussão acabou concentrada na assistolia fetal — procedimento recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para casos de aborto legal acima de 22 semanas. Lira ponderou como consequência da ausência de análise aos demais pontos da proposta o recuo da pauta na Câmara.
“Para não se impor uma visão que às vezes não é correta, se recuou, se colocou e se colocará uma relatora mulher, equilibrada, nem de um lado nem de outro, com várias discussões, audiências públicas, seminários, congressos, conduzidos pela bancada feminina a respeito da assistolia [fetal], não do que nós temos de legislação para aborto, porque isso não passa no Congresso”, prosseguiu o presidente.
Em 18 de junho, Lira anunciou que criaria uma comissão para discutir o projeto de lei na Casa — algo que ainda não avançou —, e que o debate do tema ficaria para o segundo semestre, após o recesso parlamentar.