E os recentes casos contribuem com as estatísticas apresentadas por ela. Três mulheres trans foram assassinadas somente no mês de março em Alagoas, sendo que as duas últimas com um intervalo de um dia entre os assassinatos. Outras sete foram mortas no ano passado, das quais três no interior do Estado.
“Os casos de assassinatos a pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ tem aumentado muito em Alagoas, especialmente nos últimos três anos. O Brasil é o país que mais mata mulheres travestis e transexuais. E Alagoas um dos estados onde o registro de mortes pelo simples fato de serem pessoas trans também é alto”, considerou ao acrescentar que o campeão no ranking de assassinatos no Nordeste a pessoas LGBTQIAPN+ pertence ao Ceará.
Segundo Fabíola Silva, faltam políticas públicas afirmativas contra a violência de gênero em Alagoas. “Quando falamos em violência de gênero, falamos também nas mulheres travestis e transsexuais. Do mesmo jeito que matam as mulheres cisgêneros [pessoa que se identifica com o gênero que foi atribuído a ela quando ela nasceu], matam também as mulheres travestis transsexuais”, destacou.
A coordenadora do Coletivo de Pessoas Trans em Alagoas garante que os números são subnotificados e, por isso, mesmo são ainda mais alarmantes. “Não temos dados oficiais, no entanto, temos a certeza que muito mais pessoas são mortas e não entra para as reais estatísticas”, frisou.
Além das mortes de mulheres trans, também tem crescido os assassinatos que tem como vítimas homossexuais, especialmente do sexo masculino, em Alagoas.
As mortes das mulheres trans estão sendo investigados pela polícia.
No último dia 20, uma mulher trans, identificada como ‘Barbie”, 65 anos, foi encontrada morta com sinais de estrangulamento, dentro da própria residência localizada à Rua Dias Cabral, na região central de Maceió. A vítima possuía diversas lesões na região do pescoço. Segundo testemunhas, o suspeito de cometer o crime seria o próprio namorado da vítima, um homem de 20 anos.
No dia anterior, uma travesti identificada como Joelma, foi assassinada, na Vila Brejal, no Bom Parto, também em Maceió.
As informações são de que a vítima teve sua cabeça batida contra o chão diversas vezes, até quase ficar desfigurada. Ela foi encontrada sem roupa, o que pode dar conotação sexual ao crime.
O caso foi encaminhado à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Capital que também investiga o assassinato de Joyce Kelly, encontrada morta em um galpão no Santos Dumont, no último dia 10. Ela estava desaparecida há pelo menos três dias antes de ter o corpo encontrado.
Juliana Maria, prima de Joyce, contou que a vítima saiu de casa no último dia 7, dizendo que iria checar se havia sido aprovada no requerimento do Bolsa Família, programa social do Governo Federal. Desde então, não foi mais vista com vida.
Joyce Kelly, segundo a família, não tinha o costume de ficar dias longe de casa. Ela tinha 19 anos. A jovem trabalhava como garota de programa e estava no processo de transição de gênero há pelo menos dois anos. Saiu de casa sem documento e sem celular.
A Polícia Civil trabalha com duas linhas de investigação. Em uma delas, está sendo investigado se Joyce foi assassinada enquanto se prostituía. No entanto, o delegado Thiago Prado diz que não foi encontrada a peruca com a qual a vítima costumava trabalhar, o que levaria a polícia para a segunda linha de investigação, de que ela tenha ido ao local para consumir drogas.
“O local onde ela foi achada era um terreno baldio utilizado para a prática de prostituição e de consumo de drogas. O inquérito está em andamento”, disse o delegado.
O corpo de Joyce Kelly foi periciado pelo Instituto Médico Legal, que constatou sinais de espancamento.