Os projetos financiados pela Braskem, depois dos abalos sísmicos de 2018 são muitos, a maioria em parceria com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), como de apoio animal, que começou em junho de 2020 e prossegue até meados deste ano, consumindo quase R$ 17 milhões. Somado a outros dez projetos, cujas informações foram confirmadas pela empresa, os valores ultrapassam a casa dos R$ 41 milhões. Desses, nove encontram-se em andamento e dois foram encerrados em janeiro deste ano.
“Um investimento de quase 17 milhões de reais no Programa de Apoio aos Animais da Braskem, é um valor exorbitante. E, quando você analisa a situação dos animais nos bairros atingidos pela mineração, todos esses anos, ficamos nos perguntando por que as medidas que eram pleiteadas, inclusive em sede de Ministério Público Estadual, não foram atendidas pela empresa”, questionou a advogada Elisa Moraes, coordenadora do SOS PET Pinheiro e integrante do MUVB.
Segundo ela, abrigos para os animais domésticos, que poderiam ter sido feitos há muito tempo, por exemplo, não foram. “Aí você olha nos bairros o que fizeram? Uma coberta lá, horrível, que em dia de chuva os animais não iam conseguir sequer ficar para comer”, afirma a advogada. “Não foram dezenas de animais que morreram nas ruas dos bairros, foram centenas ao longo desses anos”, acrescentou.
Por isso, Elisa Moraes enfatiza: “As instituições, que atuam em defesa dos animais nos bairros atingidos pela mineração, não enxergam o programa como um caso de sucesso da Braskem, como a empresa coloca nas suas propagandas e plataformas digitais”. Para ela, “animais ainda estão lá, em áreas fechadas que a Proteção Animal não pode entrar, animais que estão sem assistência”.
A advogada questiona como o programa de apoio animal gastou os recursos da Braskem, de julho de 2020 para cá e os resultados foram tão pífios. “Defendemos a pesquisa e seus benefícios para a sociedade, entendemos o papel da universidade como importante. Mas, em se tratando de apoio aos animais, a gente não quer pesquisa, a gente quer a preservação de vidas e o bem-estar animal, e isso a Braskem nunca proporcionou”, destacou a advogada”, completou a advogada.
A resposta da empresa destacou apenas o programa de apoio animal, firmado em parceria com a Ufal/Fundepes, mas não explicou como foram gastos mais de R$ 41 milhões, nos outros dez projetos financiados pela mineradora. Entre eles, um de biomonitoramento das águas da Lagoa Mundaú, que começou em novembro de 2022 e prossegue até o final de 2025, sob o comando do professor Emerson Soares, no valor de quase R$ 7 milhões.
Outro projeto muito bem remunerado é de manejo dos rejeitos e escombros produzidos pela derrubada de casas, prédios e empresas na região da zona de risco, nos bairros que afundam. Só para pesquisas e ações com relação à questão dos rejeitos, a Braskem investiu cerca de R$ 6 milhões, num projeto sob a responsabilidade de Daniel Pinto. Veja a diferença: num projeto de história e memória cultural, sobre os festejos e folguedos na região de Bebedouro, a empresa investiu apenas R$ 390 mil.
EMPRESA DIZ QUE CUIDA
Segue a íntegra da nota da mineradora:
“A Braskem esclarece que tem firmado parcerias com diversas instituições públicas e privadas independentes, no Brasil e no exterior, para atendimento aos compromissos assumidos em Maceió. Isso inclui convênios para fins de pesquisa. Todas as instituições conveniadas são especializadas e os resultados técnicos, disponibilizados para os órgãos competentes regularmente.
Em relação ao Programa de Apoio aos Animais desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e a Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (FUNDEPES), mais de 8 mil animais já foram atendidos nas áreas de desocupação definidas pela Defesa Civil de Maceió. Todas as ações são acompanhadas pelo Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE).
Além de dar suporte aos moradores das áreas afetadas que possuem animais de estimação, o Programa realiza ações com animais que vivem em condições de rua e que, em sua maioria, foram abandonados. Até o fim de fevereiro, foram mais de 4,7 mil castrações e mais de 850 animais adotados por meio do canal de adoção @focinhoresponsável, no Instagram. Antes da adoção, os cães e gatos recebem atendimento veterinário, são vermifugados, castrados e vacinados.
O Programa também trabalha com orientações sobre posse responsável e, em relação aos animais errantes, atua com estratégias como a captura, esterilização, devolução e encaminhamento para adoção, controle sanitário e monitoramento. As medidas são cientificamente efetivas para a saúde pública e bem-estar animal”.
NÚMEROS ASTRONÔMICOS
Com relação à nota da Braskem, a advogada Elisa Moraes lamentou mais um posicionamento da empresa, que exagera nos números, mas deixa a desejar no aspecto humanitário. “A gente já espera esse tipo de resposta da empresa. Da mesma forma que ela trata o aceite dos acordos do Programa de Compensação Financeiro como um sucesso pelos altos índices (as pessoas não tinham alternativa, aceitam ou aceitam). A mineradora trata da mesma forma o Programa de Apoio aos Animais, com esses números astronômicos. Para a empresa são apenas números para divulgar e dizer que está fazendo algo, para nós são vidas”, afirmou Elisa.
“O que a Braskem não deixa claro é quantos dos animais castrados e devolvidos as ruas dos bairros estão de fato vivos após quase 4 anos de início do programa? Isso já foi perguntado a empresa no Ministério Público Estadual e até hoje eles não responderam e porque não responderam, porque não sabem. Castrar diminui a reprodução, mas não diminui a quantidade de animais castrados e devolvidos as ruas ao longo desses quatro anos e onde estão? Te digo, morreram e a empresa não deu conta disso e segue impune”, acrescentou a advogada.
Mês passado, ela promoveu, com a ajuda dos depois integrantes da Ong SOS Pet Pinheiro a 4° Edição do Cat Café, oferecendo aos moradores da região a chance de passar um tempo fazendo ‘gatoterapia’ com os gatinhos, enquanto toma um delicioso cafezinho no lar da entidade. A 5ª Edição do evento está sendo preparada. Na oportunidade, mais uma vez, serão ofertados vários gatinhos de estimação para doação. Em contrapartida, os moradores poderão fazer doações em rações, sachês, areia sanitária, brinquedos, remédios, além de produtos de higiene e limpeza.