“Fui presa duas vezes pelo mesmo motivo. Uma peguei cinco anos de prisão e a outra vez peguei seis anos”, relata.
E depois de sair da prisão há 14 anos e lá fazer os cursos que o presídio a ofertou para mudar de vida e buscar a “segunda chance” na vida, Lucélia conseguiu finalmente ressignificar sua vida ao ser contratada com carteira assinada e tudo que tem direito. “Antes de ser contratada neste emprego aqui da Defensoria Pública, sofri muita discriminação, tanto da família, como nos trabalhos que consegui anteriormente a este. As pessoas julgam muito, sabe!”, diz Lucélia, que trabalha há três anos com carteira assinada na Defensoria Pública do Estado de Alagoas.
“Aqui, graças a Deus, fui muito acolhida e abraçada por todos, do maior ao menor funcionário”, ressalta a funcionária que faz limpeza e copa.
“Lembro que antigamente, logo depois de sair da prisão, eu mandava currículo e fui descartada por causa do meu histórico. Mas graças a Deus hoje em dia isso mudou muito, as empresas estão pegando mais as pessoas que saem da prisão, graças aos convênios”, completa a ex-presidiária.
“Meu maior orgulho hoje é ter minha carteirinha assinada, ter meu salário honestamente e cuidar da minha família”, relata a esposa e mãe de seis crianças, ao não esconder a emoção, flagrada com os olhos marejados durante a entrevista.
Lucélia lembra que assim que saiu da prisão, antes mesmo de sua família, o tráfico de drogas a tentou novamente e a turma do “corre” (gíria usada no mundo do tráfico de drogas) foi a primeira a se aproximar e dar “força” para ela voltar àquele mundo que a tinha levado à prisão.
“Eles chegaram e diziam assim: ‘olha, se você quiser, tem um ‘corre’ muito bom para você conseguir dinheiro e recomeçar sua vida’”, diz à Tribuna a ex-presidiária.
“Vi muita gente morrer por causa do tráfico. Entra muito dinheiro fácil e é um querendo matar o outro. Neste mundo, a vida está sempre em risco. Lembro que a gente evitava dormir, passava noite de sono bebendo e consumindo droga para não dar vacilo, para ficar acordada e não morrer”, conta.
“Na minha segunda queda, lembro que apanhei de um policial e aí minha ficha caiu. No presídio eu estava grávida e era spray de pimenta todo dia. E lá eu disse que quando saísse daquele lugar infernal, nunca mais queria saber daquela vida novamente”, diz Lucélia.
Outra personagem que deu outro rumo a sua vida depois da experiência em presídio foi Lidiana Olímpio da Silva. Hoje ela é trabalhadora contratada na copa da Assembleia Legislativa de Alagoas, onde serve cafezinho.
“Entrei nessa vida por causa do meu ex-esposo, por formação de quadrilha ligada ao tráfico. Peguei uma pena de 14 anos e nove meses. Mas consegui trabalhar mesmo detida por causa dos convênios no sistema prisional, o que me salvou! Passei um ano com tornozeleira no regime semiaberto em outro trabalho”, conta. O homem que a fez entrar na vida de ilegalidade e do crime, o esposo à época, morreu, assassinado.
Se por um lado a reinserção necessita do perdão da sociedade, como assinala o coordenador-geral de alternativas penais do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Talles Andrade de Souza, por outro é preciso considerar o efeito provocado no imaginário dos cidadãos pela ideia de conviver com autores de crimes.
“Nós precisamos acreditar que todos os sujeitos têm condição de rever suas trajetórias”, propõe Andrade de Souza.
O sociólogo Lúcio de Brito Castelo Branco contrapõe:
— Você daria emprego a um bandido acusado de estupro, latrocínio?
A opinião do sociólogo, vista com antipatia por pessoas que creem na ressocialização, é mais parecida com a do senso comum.