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Em Alagoas, 40 pessoas já assinaram em cartório desejo de doar órgãos

Publicada em 24/08/24 às 10:42h - 4 visualizações

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente


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Em Alagoas, 40 pessoas já assinaram em cartório desejo de doar órgãos
 (Foto: ilustração)

Em Alagoas, cerca de 40 pessoas manifestaram, em cartório, a vontade de doar órgãos depois de falecidas. A medida passou a ser possível desde abril deste ano, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e os cartórios lançaram a campanha e o sistema de Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos.

A campanha “Um Só Coração: Seja Vida na Vida de Alguém” foi lançada pelo presidente do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso, e pelo corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão. A iniciativa também marca a regulamentação do sistema de Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO). Desde então, doar órgãos está mais fácil, rápido e seguro.

Quem desejar doar seus órgãos poderá manifestar e formalizar a sua vontade por meio de um documento oficial, feito digitalmente em qualquer um dos 8.344 cartórios de notas do Brasil. Em Alagoas, existem 106 cartórios de notas.

A estudante Layla Vitorino foi uma dessas pessoas. Ela sempre quis ser doadora de órgãos e não pensou duas vezes quando soube da novidade. “Percebi a praticidade e a possibilidade de manifestar essa minha vontade de ajudar as pessoas, doando órgãos”, contou.

Quando mais alagoanos fizerem o mesmo, estarão garantindo vida a pessoas como o servidor público estadual Jackson Filipe da Silva Santos, 32 anos de idade, morador do povoado de Tuquanduba, no município de Marechal Deodoro, no litoral Sul alagoano. Ele é um dos quatro alagoanos que espera na fila por um transplante de fígado. Devido à gravidade do caso, ele é o primeiro da lista.

“Há cinco anos venho tratando uma hepatite autoimune. O diagnóstico veio como um choque. Até então, naquele momento eu desconhecia sobre o assunto. Nunca tinha ouvido falar. E claro, eu tinha esperança de ficar curado. Foram 23 dias de internação até eu receber o diagnóstico completo”, recordou o paciente que faz acompanhamento com hepatologista no Hospital Universitário.

Segundo Jackson Filipe, em maio do ano passado, ao realizar alguns exames de rotina foi, mais uma vez, surpreendido pela doença que evoluiu para um quadro de ascite [acumulo de líquido dentro do abdômen geralmente decorrente do quadro de hipertensão podendo ou não estar relacionado à cirrose hepática, além de outras doenças cardíacas ou renais], junto com cirrose hepática.

Arquiteta de 29 anos espera por doação para enxergar o mundo

A arquiteta Pauline Marques, 29 anos, está à espera de córneas. Em agosto de 2022, ela fez uma cirurgia refrativa. Dois dias após o procedimento, contraiu uma bactéria no olho esquerdo. Em menos de 24 horas, a bactéria já estava também no olho direito, sendo nesse de forma ainda mais agressiva.

O diagnóstico de que poderia perder os dois olhos veio seguido da notícia de que precisaria, com urgência de transplante das duas córneas. “Como não se pode fazer o transplante dos dois olhos de uma vez, a médica optou por fazer a do olho direito primeiro por causa da agressividade da bactéria”.

Enquanto esperava a córnea, Pauline Marques ficou em tratamento com medicamentos e colírios e foi submetida a um procedimento cirúrgico chamado recobrimento conjuntival, para tentar frear a evolução da bactéria até a córnea chegar.

“Foram 10 dias de muita angústia e sem enxergar nada nos dois olhos. Graças a Deus, no dia 23 de agosto de 2022, fiz o transplante do olho direito e deu tudo certo com a cirurgia e com o pós-operatório. Quem nunca passou por essa situação, de precisar de um órgão, não imagina o quão angustiante e questionadora é essa espera. No meu caso, eu tive muito medo de não conseguir voltar mais a enxergar, já que a bactéria era muito agressiva. E junto a mim, meus familiares todos apreensivos com toda essa situação que, no meu caso, aconteceu de um dia pra o outro”, recordou.

Quanto ao olho esquerdo, explicou ela, a visão foi voltando aos poucos. Ainda assim, ela tem menos de 30% da capacidade de enxergar. A arquiteta segue na fila do transplante há mais de 1 ano e meio.

Professor foi primeiro a receber transplante de fígado no Estado

O professor de Educação Física Jorge Ricardo Queiroz de Andrade, foi a primeira pessoa a receber o transplante de fígado em Alagoas. Foi no dia 13 de maio de 2021. A cirurgia, realizada na Santa Casa de Misericórdia de  Maceió, foi a realização de um sonho que começou com uma espera de quatro anos na fila pelo órgão.

À época, o professor foi diagnosticado com o vírus da Hepatite B. Três anos depois do transplante, Jorge Ricardo está muito bem de saúde, com um fígado novo e uma vida saudável.

“Em 2021 Deus olhou para mim e me abençoou com um fígado saudável. Tenho muita gratidão a todos que acreditaram na minha luta”. Antes do diagnóstico, ele era doador de sangue e já tinha deixado claro em sua identidade que era doador de órgãos.

O procedimento cirúrgico foi coordenado pelo médico Oscar Ferro, que atuou com os médicos Aldo Barros, Claudemiro Neto, Flávio Falcão, Danilo Amaral, Felipe Augusto Porto, Leonardo Wanderley e Cira Queiroz, além da equipe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e de Enfermagem. O paciente recebeu o órgão de uma enfermeira que tinha 43 anos e foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH).

Alagoas vem somando números positivos em relação à doação de órgãos. De janeiro a julho, 72 transplantes foram realizados no Estado, sendo 65 de córneas, quatro de fígado e três de rim. No mesmo período do ano passado, foram feitos 48 transplantes, dos quais 42 de córneas, quatro de fígado e dois de rim. Em todo o ano passado, foram realizados 96 transplantes. Deste total, 86 foram de córneas, sete de fígado e três de rim.

Os números foram fornecidos pela Central de Transplante de Alagoas, instituição vinculada à Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).

A Central Estadual de Transplantes de Alagoas, registrou, de janeiro até julho, um total de 14 doações de múltiplos órgãos. O número é 100% maior que o mesmo período de 2023.

Fila de espera tem total de 547 pessoas

Apesar de o número de doações ter sido duplicado, a fila de espera no Estado é de quase 600 pessoas aguardando, com fé e esperança, pela atitude altruísta dos familiares das pessoas que tiveram o diagnóstico de morte encefálica confirmado, seguindo todos os rígidos protocolos que a situação requer.

São exatamente 547 vidas na fila do transplante à espera por algum órgão. Do total, 513 pessoas esperam por córneas, 30 pelo rim e as outras quatro pelo fígado. A fila à espera de coração está zerada.

s pessoas que esperam pela córnea aguardam, em média, 15 meses na fila. A esperança de recebe um fígado soma 10 meses, aproximadamente. Ter a vida ligada a um fio de esperança de receber um rim pode custar longos 82 meses ou praticamente sete anos.

O Hospital do Coração está habilitado pelo Ministério da Saúde a realizar transplantes no Estado e os profissionais estão sendo contratados para realizar os procedimentos.

Autorização da família ainda é necessária

Mesmo com o provimento do CNJ para registro em cartório, a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, Daniela Ramos, frisou que a doação de órgãos do potencial doador, juridicamente, só pode ser autorizada pela família.

“O primeiro passo para se tornar um doador é a decisão de continuar salvando vidas, mesmo após a morte, e de conscientizar seus familiares da sua escolha, pois a nossa legislação não permite que seja deixado nada por escrito. Então, os familiares precisam autorizar a doação de órgãos e é a decisão da família que será acatada por nós. Portanto, ressaltamos sempre a importância de avisar os familiares, de conscientizá-los e sensibilizá-los desse milagre, dando vida a outras pessoas”, ressaltou.

A coordenadora salientou que, só após o diagnóstico de morte encefálica, prescrito na resolução 2.173, expedida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2017, os médicos procuram a família e pedem a autorização para a doação dos órgãos.

“Nós possuímos uma equipe especializada, a Organização de Procura de Órgãos, que faz esse trabalho, e acolhe a família durante todo o processo”, acrescentou.




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